domingo, 14 de outubro de 2012

Doces problemas


Becos e ruas estreitas, estranhas ruas escuras cheias de lama, onde a pobreza reina e a ganância anda à solta. Um lugar onde a mãe natureza mora perto, e seus moradores infectados pelo pecado da preguiça, a destroem com seus restos embalados de lixo.
Crianças brincam nas ruas esburacadas e perigosas onde o perigo mora ao lado. Ligo a TV. Está passando um jogo de futebol, não sei distinguir os times, não conheço as siglas. Estava no segundo tempo, faltavam uns dois minutos para encerrar a partida. O time que vestia azul estava vencendo o adversário, quando o juiz toca o apito, o time azul vence e, de repente, ouço alguns papocos bem auto. Não eram fogos e sim disparos. Não me espantei, pois já tinha visto esse filme muitas vezes. Era coisa comum na minha rua.
Fiquei refletindo sobre os tiros: será que estavam atirando para comemorar a vitória do time ou estavam se livrando de um torcedor adversário? Não sei. Não me arriscaria a sair do meu conforto e proteção para ver se alguém havia morrido. E se fosse? Quem sabe uma bala perdida não me acertaria? Acho que vou esperar até o dia seguinte, talvez alguém comente por aí.
Liguei a TV para ver o jornal na esperança de ter uma boa noticia. Ameniza-me um pouco a ideia de ter mais um vizinho morto. Talvez a única esperança fosse quando as estrelas da noite brilhassem e nos hipnotizassem com sua luz profunda fazendo-nos cair em sono profundo e acordar num lugar sem problemas. Mas os problemas não se acabam facilmente como se acaba o fogo de uma fogueira sem lenha.
Desligo a TV de decepção. Por que não passa uma noticia boa no jornal? Talvez por que o mundo esteja igual a minha rua, sabe? Por que o governo não manda a policia vir prendê-los? Acho que é por que ninguém ia dizer quem é quem. Talvez esteja tudo bem ou talvez a suposta vítima seja um destes porcos sujos de alma escura que matam por diversão.
Fico cansado de pensar nisso. Talvez ninguém tenha morrido, mas acho que o melhor a fazer é fingir que moro em um lugar seguro e vigiar meus passos por que há lugares que se tirando uma pedra do lugar pode-se dar razão para morrer.

Jorge Lucas Ferreira de Vasconcelos, aluno da EEIEF Dona Lavínia de Medeiros, Caucaia-Ce.
Texto selecionado pela Comissão Julgadora Municipal da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, na categoria Crônica

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